A bicicleta de Leonardo da Vinci é mentira

A maior parte das publicações que trata de introduzir a história da bicicleta, modo senso comum, começa quase invariavelmente na bicicleta de Leonardo Da Vinci – que Hans-Erhard Lessing, em 1998, demostrou ser uma mentira. O autor* demonstrou que o esboço não é da mão de Leonardo e que a história contada por Marinoni, em 1974 em Vinci – terra de Leonardo – sobre um aluno que terá copiado a bicicleta de um desenho perdido de seu mestre, não passa de uma especulação sem fundamento. 

A fotografia em destaque foi retirada do artigo da Wikipédia inglesa dedicada à história da bicicleta – History of the bicycle. Este artigo, sim, tem um resumo factual sintético, bem fundamentado e atual sobre a história da bicicleta. 

Bicycle, the History, David Herlihy (2004)

Uma das principais obras de referência da história da bicicleta é este livro de David V. Herlihy, publicado em 2004 pela Yale University Press. Na imagem está a capa do livro que é um dos mais bonitos ao nível da variedade e qualidade das ilustrações.

Em Bicycle, the History, David Herlihy descreve a bicicleta como “a maravilha mecânica simples que conhecemos hoje como bicicleta foi efectivamente o culminar de uma longa e esquiva busca por um veículo movido pela força humana, uma história extraordinária que ainda está por contar em todo o seu detalhe” (2004: 3).

Na obra, o autor distingue quatro fases na prossecução do invento: a primeira, de exploração de um engenho mecânico movido pela força humana; a segunda fase, denominada de boneshaker,  corresponde ao termo usado no século XIX para descrever o desconforto das primeiras bicicletas sem pneus, ainda com os pedais colocados na roda dianteira; a terceira fase é a da bicicleta de “roda alta”, para fazer a bicicleta andar mais rápido aumenta-se a roda da frente, mas esta forma de exploração da velocidade vai trazer problemas de segurança, com quedas frequentes; e, por último, a quarta fase, da redução do tamanho da roda da frente por colocação dos pedais numa roda pedaleira unida à roda traseira por uma corrente; a bicicleta já com as rodas do mesmo tamanho passa a ter condução mais confortável com a invenção dos pneus com câmara-de-ar.

A metodologia de análise de Herlihy foca-se mais na invenção em si e nos arquétipos que permitem avanços de mecânica determinantes na nova funcionalidade do engenho, e menos na nacionalidade das patentes, não deixando porém de aludir e descrever os conflitos gerados por estas disputas, mostrando como a inovação tecnológica, conseguida à custa de inventos que ora se devem a franceses, ora a ingleses e também a alemães, resulta da circulação das cópias de arquétipos bem sucedidos.

A história da bicicleta, de Herlihy, é uma obra de referência não só pelos dados ligados com a invenção da bicicleta propriamente dita mas também pela estética das fotografias, cartazes e demais materiais usados na ilustração da obra.

* Text of a paper presented at the 8th International Conference on Cycling History, Glasgow School of Art, August 1997 – Hans-Erhard Lessing