Explorando as transformações da mobilidade tendo como referência a Primeira Volta a Portugal em bicicleta, realizada em 1927
Objetivo:
Este projeto de etnografia pretende examinar o papel da bicicleta na mobilidade espacial através da revisitação da primeira Volta a Portugal de bicicleta. A Volta de 1927 é um percurso moldado por sentimentos de identidade e, por isso mesmo, facilmente reconhecido pelo imaginário social. O projeto procura compreender a dinâmicas contemporâneas dos usos da bicicleta e os desafios colocados pela interação de espaços sociais, físicos e virtuais. Para o estudo da mobilidade interessam as muitas e interdependentes formas de movimento de pessoas, imagens, informações e objetos (Sheller e Urry, 2006).
Metodologia:
Pesquisa de Arquivo: este projeto conta com o estudo já realizado e publicado sobre a Volta a Portugal no qual se podem encontrar textos, fotografias e artigos de jornais da época da primeira Volta a Portugal de bicicleta. Este legado de materiais publicados contém informações sobre o contexto histórico, motivações e impactos do evento no país e nas povoações contempladas pelo itinerário da corrida. No livro são tratadas as questões ligadas com espectáculo mediático e produção de emoções, territórios e identidades, corpo e tecnologia.
Abordagem multitemporal: com esta perspetiva multitemporal pretende-se justapor as configurações de Portugal como um lugar e a sua identidade em evolução ao longo do tempo. Com a realização destes percursos, 90 anos depois, pretende-se analisar a transformação destes diferentes locais. Parte desta análise está concretizada no livro de referência para este projeto. No entanto, convém no terreno, examinar as variações nos contextos locais e, ao mesmo tempo, dar conta dos desafios enfrentados ao longo do tempo, nomeadamente sobre a natureza das ligações entre vilas e lugares, concretamente sobre as possibilidade de desenvolvimento do cicloturismo.
Análise de escala: temos pela frente o desafio metodológico de escala investigando a interconectividade do cicloturismo a vários níveis. Nesse sentido irá explorar-se a presença, ou ausência, e eficácia de instituições, redes e processos globais que influenciam padrões e experiências de cicloturismo.
Análise Comparativa: aplicamos o princípio antropológico da comparação para investigar como diferentes atores percebem e privilegiam a noção de “diferença” em vários contextos. Outra das dimensões de análise comparativa é a realização de uma etnografia multi-situada, Portugal comparado com outras nações. Pretende-se dar conta das discrepâncias e inconsistências nas experiências de cicloturismo, chamando a atenção para as estruturas que permitem ou impedem o movimento.
Etnografia Glocal: pretende-se adotar uma abordagem de “etnografia glocal” para entender a interação global-local na dinâmica da cicloturismo. Para o efeito, interessa analisar as maneiras pelas quais os processos globais moldam as práticas e identidades locais de cicloturismo.
Documentar e partilhar rotas: criar uma documentação abrangente de várias rotas de cicloturismo, destacando a sua beleza, valor cultural e potencial económico. Com este site procura-se divulgar projetos em curso, novas rotas e destinos, dados de recolha etnográfica, inspirar novos viajantes e influenciar decisões políticas para melhorar a segurança e a infraestrutura dos viajantes de bicicleta.
Avaliação do valor económico e social: realizar um inventário de indicadores que permitam o cálculo dos benefícios económicos e sociais das viagens de bicicleta em vilas pequenas. Para o efeito, há que analisar os efeitos positivos nos negócios locais, turismo, condições de vida que promovam o bem-estar individual.
Influenciar as decisões políticas: utilizar os resultados da investigação para defender a melhoria da infraestrutura cicloviária entre vilas e cidades, e melhoria de medidas de segurança. Estabelecer parcerias com decisores políticos e agentes locais interessados e relevantes na promoção da viabilidade económica e valorização social cicloturismo nacional.
Resultados esperados:
Compreensão aprofundada do valor económico e social do cicloturismo.
Documentação e promoção de várias rotas para viajar de bicicleta, inspirando novos viajantes e promovendo o envolvimento da comunidade.
Recomendações baseadas em mapas e dados para melhoria da infraestrutura de apoio às viagens: medidas de segurança, sugestões de intermodalidade, de marcação de percursos (com exemplos do que é realizado nos outros países europeus).
Servir de campanha à valorização do potencial económico e dos benefícios sociais deste tipo de viagens.
Publicação de um livro sobre Cicloturismo em Portugal.
Bibliografia:
Benson, M. (2011). The movement beyond (lifestyle) migration: Mobile practices and the constitution of a better way of life. Mobilities, 6(2), 221-235.
Hannam, K., Sheller, M., & Urry, J. (2006). Mobilities, immobilities and moorings. Mobilities, 1(1), 1-22.
High, H. (2013). Returns to the field. Multitemporal research and contemporary anthropology, edited by Howell, Signe and Aud Talle. Social Anthropology/Anthropologie sociale, 21(3), 412-413.
Salazar, N. B. “From local to global (and back): towards glocal ethnographies of cultural tourism.” Cultural tourism research methods. Wallingford UK: CABI, 2010. 188-198.
Salazar, N. B. (2013). Seminar Papers. Ethnographies of Mobility, 18.
Sheller, M., & Urry, J. (2006). The new mobilities paradigm. Environment and planning A, 38(2), 207-226.
Ziegler, F., & Schwanen, T. (2011). ‘I like to go out to be energised by different people’: an exploratory analysis of mobility and wellbeing in later life. Ageing & Society, 31(5), 758-781.