FALTAM CICLOVIAS S.U.F.

PERCURSO VARIADO DE SERRA E MAR

De Sines a Odemira não temos ciclovias S.U.F. (Seguras, Úteis e Fáceis de seguir) mas, em compensação, temos uma paisagem deslumbrante e variada para admirar, ora à beira mar, até Porto Côvo, ora serra adentro até Odemira. A diversidade de paisagem é pautada por coloridos diferentes dados pelas flores que ladeiam as bermas e enfeitam as planícies com “monda já empacotada” em rolos brancos gigantes com os quais apetece, pelo menos na imaginação, brincar. Com Porto Côvo à vista, vem à memória o refrão da canção do Rui Veloso:

Havia um pessegueiro na ilha / Plantado por um Vizir de Odemira / Que dizem que por amor se matou novo / Aqui, no lugar de Porto Côvo

Quantos não sonham com o percurso à beira do Danúbio? É, de facto, um percurso que dispõe de ciclovia S.U.F. – Segura, Útil porque tem sinalização que indica a direção e a distância às vilas, logo muito Fácil de encontrar mesmo dentro das vilas onde a ciclovia deixa de existir. Mas, e não há bela sem senão, a maior parte da viagem na parte alemã segue à beira de campos de milho com quilómetros e quilómetros de distância, uma monotonia que nos faz muitas vezes avançar de uma etapa para a outra de comboio. A intermodalidade também é sempre garantida com os comboios a cobrar 5 euros ao transporte da bicicleta.

Mais, a côr do rio Danúbio raramente corresponde à que aparece nos panfletos e o azul ansiado tem a cor castanha, o caudal é largo, corre rápido demais e, no verão, quase transborda a margem. À conversa com os locais descobrimos que as curvas do rio, que desaceleravam o curso das águas, foram retificadas para servir a agricultura extensiva, maior parte milho e tabaco. Resultado, nomeadamente em Passau onde se dá o encontro do Danúbio com o Inn, todos os anos há cheias monumentais durante a primavera, na altura do degelo. Na entrada da igreja e nos hotéis que servem o cicloturismo estão marcados os anos e respectivas alturas atingidas por cada cheia. Em suma, agora o plano é refazer artificialmente as curvas do rio para desacelerar e absorver parte do caudal. Enfim, têm ciclovias S.U.F. mas, por suposto, também têm problemas ligados com o excesso de racionalidade no que à produção agrícola diz respeito.

Quando nos aproximamos do lugar, deixamos de ver seja o que for graças aos “muros” de auto-caravanas junto arriba e nos parques dos bairros tapando por completo o casario. Nota-se, não só em Porto Côvo mas por todo a costa visitada, a falta de regulamentação do estacionamento das auto-caravanas, ou tão só a falta de vigilância do seu cumprimento. Mormente são caravanistas que vêm de países onde este tipo de estacionamento massivo em áreas nobres não é de todo plausível e nem consentido.

Entrando na serra, a caminho de Odemira deixámos de nos cruzar com cicloturistas e passámos a acenar aos muitos ciclistas atletas que, obviamente para treino, escolhem percursos de serra com maior dificuldade de realização. Viajar de ebike possibilita a visita a terras do interior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina que, apesar de perto do litoral, ficam fora da rota habitual do cicloturismo, como é o caso de S. Luís, onde almoçámos.

Ao nível da restauração e ao longo da costa, desde Lisboa até aqui e para quem tem viajado ao longo destes anos para estes lados, nota-se grande melhoria a vários níveis: apresentação do restaurante, menus que oferecem tradição de culinária e inovação ao nível da apresentação e, ainda, atendimento profissional. O restaurante Varanda da Aldeia em S. Luís é um exemplo que ilustra esta mudança, apesar de não termos acedido à varanda (há que reservar atempadamente).

A seguir a um almoço opíparo, sem ritual de sesta cumprido, torna-se sempre mais difícil pedalar e, não ajudando nem motivando, a saída de S. Luís em direção a Odemira é sempre a subir. A estrada que se percorre é cercada por eucaliptos frondosos que deixam ver campos de cultivo de geografia ondulada que vão mudando de cor à medida que a tarde avança. As subidas são duras mas as descidas compensam em emoção vivida contra o vento fresco que nos refreia o ímpeto veloz. Valeu a diversão de nos dobrarmos sobre a bicicleta para vencer a resistência ao vento, parecendo ciclistas em competição, na grande descida da serra para Odemira, onde a etapa terminou.

Num grupo heterogéneo como este, os mais velhos vão de ebike e os mais novos vão de bicicleta padrão. Na foto quem passa dos 50 ajuda quem ainda não chegou aos 30 anos numa daquelas subidas que nunca mais acaba.

SERVIÇOS DE APOIO EXISTENTES

‣ Alojamentos e Restaurantes onde nos guardam a bicicleta – SIM

‣ Interligação com os transportes públicos (comboio e autocarro) – NÃO

‣ Locais de informações específicas sobre rotas – NÃO

‣ Aluguer de bicicletas – EUROPCAR

‣ Oficinas de bicicletas – SIM

KOMOOT

Mapa e perfil da etapa recolhidos através da Aplicação que utilizámos para planear todas as etapas.