Esta etapa foi dividida em 3 percursos: 1. De Braga a Monção; 2. De Monção a Viana, 3. De Viana ao Porto
DE BRAGA A MONÇÃO
Viajar de bicicleta em tempo de chuva: um gozo desde que bem equipados
A previsão do tempo para este fim-de-semana da Páscoa era 100% de chuva para os três dias de realização dos percursos da etapa do Minho. Depois de alguma indecisão, já com bilhetes de comboio pagos mais hotéis reservados, o grupo decidiu avançar, dois de nós de automóvel com as dobráveis Brompton para fazerem trajetos de ciclovia mais curtos e os outros seguindo a viagem planeada, de comboio, realizando o percurso total mesmo que sob intempérie prevista.
Braga, dia 30, 6ª feira Santa, amanheceu nublado e a chover. Em dias de chuva, convém partir numa aberta porque a pedalar aquecemos, andar à chuva até sabe bem desde que bem equipados, com casaco e com calças que tenham extensões que tapam o calçado (nada mais desconfortável que pedalar com os pés encharcados). Com os impermeáveis e os pés quentes, andar a chuva é um prazer infantil que nos leva a sorrir quando, sob dilúvio, atravessamos uma povoação como Lavaceira.
Seguindo o mote da Páscoa, etapa molhada é etapa abençoada! E foi… nos dois dias seguintes o problema foi o facto de ninguém se ter lembrado de levar creme solar!
Parte dos vídeos e das fotografias é sempre realizada de bicicleta, em andamento, a pedalar.
Chegámos a Braga no comboio urbano que fez ligação com o Inter-Cidades no Porto, o transporte de bicicletas em ambos os comboios é gratuito e a única chatice para quem anda com alforges são as mudanças de plataforma porque as bicicletas só cabem nos elevadores em posição “cavalinho”. Não é fácil colocar em cavalinho os 25 kg que pesa o conjunto bicicleta mais alforges, exige saber lidar com o travão da roda traseira ao mesmo tempo que se ergue a roda da frente para entrarmos no elevador. Haver elevador é algo muito positivo. Na Alemanha existem estações sem elevador para as plataformas e nota-se muito porque há muitas famílias a viajar de bicicleta; nesta situação, ver famílias a colocar alforges, bicicletas e, por último, os miúdos, ora no túnel de acesso, ora depois no cimo da escadaria já na plataforma, é alucinante (ninguém merece passar por uma situação destas, nomeadamente quando o tempo da ligação entre comboios é curto).
Não obstante, viajar de comboio é um conforto para quem quer viajar de bicicleta em completa autonomia (leia-se sem depender do automóvel), além de que é muito barato. Como comprámos com muita antecedência tivemos acesso a uma promoção. Contas feitas: ida 18,20€ e volta 24,70€, total de 42€ por pessoa, (Séniores pagaram 25€ ida e volta). É um descanso!
Hotel a evitar: o único que cobra por guardar a bicicleta
Em Braga o hotel Estação, onde ficámos, cobra 8 euros por guardar as bicicletas na garagem. Nunca tal nos tinha acontecido, nem em Portugal nem noutros Países europeus por onde viajámos de bicicleta. Em suma, um hotel a evitar por quem viaja de bicicleta! Nos outro dois – Convento dos Capuchos, em Monção, e Quinta de Valverde, em Viana do Castelo – tivemos as melhores condições de guarda das bicicletas sem qualquer custo adicional, como tem sido costume por todo o país.
N101: com algum tráfego perto das vilas, maior parte da estrada não tem bermas
Seguimos pela N101 que, até Geme, tem tráfego regular e a ausência de bermas obriga a atenção redobrada ao retrovisor e, sempre, seja noite ou dia, luz traseira acesa (nos dias chuvosos os impermeáveis com refletores ajudam a aumentar a visibilidade). Deste conjunto de etapas, esta é uma das ligações que tem de se fazer por estrada nacional, a qual raramente tem berma.
Ponte da Barca
Ponte da Barca foi o lugar eleito para a pausa de almoço porque é bonito, tem o restaurante O Moinho, situado num antigo moinho de água no Rio Vade, perto da foz deste no próprio rio Lima.
Este é o lugar ideal para iniciar a ecovia do rio Lima porque tem um percurso a jusante e outro a montante muito bonitos, ambos passam em Ponte de Lima, um óptimo lugar para pernoitar, se for o caso, e com restaurantes para “todos os gostos e bolsas”.
DE MONÇÃO A VIANA DO CASTELO
Os tempos da Viagem
De Monção a Caminha a viagem de bicicleta foi um tempo sensível, agradecidos que estávamos ao S. Pedro pelo bom tempo, deleitados com a paisagem e com a sonoridade das aldeias que atravessámos (um bucolismo característico dos urbanitas que somos), numa delas até parámos para escutar um cantar de galos ao desafio, pedalando quase sem dar conta da distância e nem do tempo passar.
ECOPISTA DO MINHO
Monção
Vila Nova de Cerdeira
Valência
Seguiu-se o tempo de almoço, um tempo sublime, um parênteses no tempo da viagem que, de igual modo, nos retempera e nos abate. Almoçámos em Caminha, no Chafariz – indicado pelo revisor do comboio de Braga que era motard e, pelas viagens regulares que faz com o seu grupo, muito conhecedor das iguarias regionais. O restaurante estava apinhado, mais espanhóis que portugueses mas todos igualmente empenhados a apreciar o repasto em “alto e bom som”.
O terceiro tempo, entre Caminha e Viana, pela berma da N3, foi vivido como um tempo de prolongamento, percepcionado como rápido e sem muita história. Podia ter sido marcante e decisivo mas não foi! Queria muito ter dado conta da beira mar de Vila Praia de Âncora mas, confesso, depois da beleza que foram os 40km de ciclovia e sem nenhuma placa que nos chamasse à atenção sobre a vila (sobre a ciclovia que pelos vistos existe à beira mar), a berma da N3 remeteu-nos a todos para a introspecção e pedalámos, pedalámos, na mais completa alienação até chegar a Viana. Deu, no entanto, para notar que ao longo da estrada a arquitetura é diversa, nem sempre muito atraente… mas, sobre este tipo de juízo de valor, lembro por bem o filme Le Goût des autres, uma sátira ao modo como avaliamos o que os outros apreciam e valorizam.
Viana do Castelo
Chegámos a Viana ao anoitecer, subimos a encosta onde ficava o hotel, sob o Santuário de Sta Luzia, e por ali ficámos perante o esplendor da paisagem, dos reflexos das luzes citadinas ao anoitecer no rio Lima, vivendo um tempo de contemplação.
DE VIANA DO CASTELO AO PORTO
Saindo pela Ponte Eiffel, sobre o rio Lima, seguimos pelo roteiro estipulado pelo Komoot, tentando evitar estradas nacionais de maior tráfego. Domingo de Páscoa, dia de beija Cruz e em muitos lugares cruzámos com o séquito que anda de casa em cada levando o Senhor aos lábios de cada um, uma intimidade de proximidade com o divino, que quando era criança também vivi na aldeia em que nasci. Das memórias de infância sobra a parte mais doce de todo o ritual: a fartura de amêndoas ao dispor em cada mesa, em todas as casas de familiares e amigos visitadas.
Diretos à Praia de Rio de Moinhos para apanhar a Ecovia do litoral que desemboca na ciclovia que atravessa a cidade de Esposende.
Depois de passar a Ponte Luís Filipe, estreita com muito tráfego, passa a ansiedade logo que se à direita para, próximo do mar, se estender uns poucos metros de ciclovia e, depois, estrada fora até à Póvoa de Varzim. Lugar de bons restaurantes de marisco e bom peixe, onde almoçámos. Da Póvoa a Vila do Conde é um descanso, com uma via ciclável praticamente à beira mar.
Depois de passar a ponte sobre o Rio Ave seguimos, de novo à direita, procurando ruas de menor tráfego automóvel. A partir de metade da Avenida D. Pedro IV começa a ciclovia praticamente até Leça da Palmeira e, por Matozinhos, até à Foz do Douro é com desfrute que se dispõe de via ciclável segura. Nada a ver com Lisboa, a entrada e a saída na cidade do Porto, se feitas à beira mar são um descanso. A paisagem envolvente é variada e muito bonita.
Vale a pena ler um pouco antes de se realizar o percurso, sobre a ponte móvel de Leça, sobre a Pérgola da Foz, a Ponte D.Luis. Depois de mais de 80 km a pedalar, atravessar toda a orla marítima que leva à cidade do Porto é um regozijo para os sentidos. Sem a necessidade de cuidar de estar atentos ao trânsito, estas vias só para andar a pé e de bicicleta têm a largueza que permite a sã convivência entre todos. Afrouxando a velocidade, com vagar, dá para fotografar sem necessidade de parar, consegue-se sentir o ambiente de passeio, não obstante a maior azáfama de gente nas ruas por ser domingo.